Para iniciar este texto e a análise proposta, considera-se a reflexão e metáfora de Bazerman (2021, p. 136) para se referir à intertextualidade ao dizer que “nós criamos os nossos textos a partir do oceano de textos anteriores que estão à nossa volta e do oceano de linguagem em que vivemos. E compreendemos os textos dos outros dentro desse mesmo oceano.”
Mais especificamente sobre o foco desta análise a partir dos estudos da linguagem, a intertextualidade é a relação que cada texto estabelece com os outros textos à sua volta, como chama Bazerman (2021) ou, ainda, “as relações explícitas e implícitas que um texto ou um enunciado estabelecem com os textos que lhe são antecedentes, contemporâneos ou futuros (em potencial).” (IDEM, 2021, p. 142).
A seguir, segue um esquema baseado no texto de Bazerman (2021) como representação da ideia proposta pelo pesquisador em seu escrito sobre as relações evocadas pelo texto:
Partindo da consideração do esquema acima, percebe-se quais aspectos são considerados além do cotexto limitado, visto que, como o próprio autor em questão afirmou: a análise intertextual investiga não somente a relação de um enunciado com aquele oceano de palavras – metáfora referida inicialmente –, mas também o modo como tal enunciado usa essas palavras e ainda a maneira como ele se posiciona em relação às outras palavras (IDEM, 2021).
O texto, suas relações possíveis com outros textos e sua infinitude de construção de sentido conduzem a uma leitura ilimitada, a qual identifica múltiplas e infindas referências. E, diante disso, Bazerman (2021) propôs alguns aspectos de análise a serem considerados no texto, descritos como níveis de intertextualidade, dispostos a seguir.
Além dos seis níveis de intertextualidade propostos por Bazerman em seu texto, constam em seguida as técnicas de representação intertextual, pois assim como um texto pode ser referido a outro em distintos níveis e profundidades, considera-se também as características mais específicas dessas relações, como é visto na tabela a seguir.
Essas técnicas especificam as possibilidades de se caracterizar e denominar as relações observadas entre distintas fontes, influenciando na instrumentalização da análise textual. E como corpus de análise foram escolhidas duas cenas cinematográficas, que serão detalhadas adiante.
1ª imagem: “Elsa & Fred” | 2ª imagem: “A doce vida”
O longa-metragem “Elsa e Fred – Um Amor de Paixão”, do diretor e roteirista Marcos Carnevale, é resultado de uma colaboração entre Argentina e Espanha. Apesar de a história se passar principalmente em Madrid, na Espanha, a cidade de Roma, na Itália, é um cenário igualmente importante para o desenvolvimento da narrativa. Em 2005, a obra de Carnevale foi lançada mundialmente sob a classificação de “comédia romântica”, apesar de alguns críticos defenderem que o filme se trata, na verdade, de um drama.
A narrativa é centrada em dois personagens que já atingiram a idade avançada, Elsa (China Zorrilla) e Fred (Manuel Alexandre), ambos possuem mais de 70 anos. Os protagonistas encaram a velhice de formas bastante distintas.
Como Güércio (2013) atestou em sua análise, o interlocutor é introduzidos à história por meio de imagens da Fontana di Trevi (que habitou o imaginário do cinema na memorável cena do filme “A Doce Vida” de Federico Fellini), reforçando a consideração aqui defendida.
Em seguida, é revelada a imagem estática de Sylvia (Anita Ekberg), a protagonista de “A Doce Vida” (1960), em um quadro pendurado na parede de Elsa, concluindo a referência que a sequência inicial faz à conhecida obra de Federico Fellini.
Güércio (2013) defende o entendimento da metalinguagem presente em “Elsa e Fred – Um Amor de Paixão”, visto que faz alusão a outra produção cinematográfica. A condução e o encerramento da história estão intimamente ligados à aclamada obra de Fellini.
Um dos clássicos da filmografia de Federico Fellini, “A Doce Vida” é uma obra atemporal, a qual aborda o mundo das celebridades em que vive Marcello Rubini (Marcello Mastroianni), que acaba encontrando a belíssima Sylvia (Anita Ekberg) tomando banho e na famosa cena da fontana.
Abaixo, constam os quadros, conforme Bazerman (2021), com as descrições desenvolvidas a partir da análise da cena da fontana.
3ª imagem: “A doce vida” | 4ª imagem: “Elsa & Fred”
5ª imagem: “A doce vida” | 6ª imagem: “Elsa & Fred”
7ª imagem: “A doce vida” | 8ª imagem: “Elsa & Fred”
9ª imagem: “A doce vida” | 10ª imagem: “Elsa & Fred”
11ª imagem: “A doce vida” | 12ª imagem: “Elsa & Fred”
Essas breves exemplificações, tomando como base as cenas dos dois filmes referidos anteriormente, refletem as possibilidades de se analisar instrumentalmente as relações intertextuais presentes nas diversas semioses, de acordo com os níveis e as técnicas em Bazerman (2021) pressupostos, não com o objetivo de esgotar as construções de sentido relacionadas e referenciadas, mas como evidência de exposição das referências presentes nas evocações a partir de diferentes textos.
REFERÊNCIAS
BAZERMAN, C.; HOFFNAGEL, J. (Org.) ; DIONISIO, A. P. (Org.) . Gênero, Agência e Escrita. 2. ed. Recife: Pipa Comunicação, Campina Grande: EDUFCG, 2021. 230 p.
Elsa & Fred – Um Amor de Paixão. AdoroCinema. Brasil. 2005.
GÜÉRCIO, Nayara Helou Chubaci. Os imaginários da velhice feminina no cinema contemporâneo. Monografia (Bacharelado em Comunicação Social) – Universidade de Brasília, Brasília, 2013.
LA Dolce Vita. Federico Fellini. Itália/ França: Pathé Consortium Cinéma, 1960.