quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Análise Visual conforme as Categorias da Gramática do Design Visual



A imagem analisada e em questão neste texto foi postada pelo cartunista Gilmar (@CartDasCavernas) em sua conta na rede social Twitter (https://twitter.com/CartDasCavernas), às 1h05 de 5 de outubro de 2022, com o título: “CANIBAL CONFESSO”. O cartunista é pioneiro no país em registrar críticas, por meio de charges políticas e sociais, ao atual governo.

Essa postagem aconteceu há exatamente 3 meses após a decisão de senadores e deputados federais em sessão conjunta do Congresso Nacional derrubarem o Veto 28/2022, conforme a Agência Senado (2022). Visto que, no início de junho deste ano, o presidente da República, Jair Bolsonaro, vetou totalmente o projeto de lei que estabelece a alteração do nome da data comemorada antes “Dia do Índio” para, então, “Dia dos Povos Indígenas” (PL 5.466/2019). Mais uma questão agravante que soma a: demarcação paralisada, expansão do agronegócio, cultura e integração e órgãos indigenistas.


Disponível em: https://pbs.twimg.com/media/FeUV7gSXgAEngt3?format=jpg name=medium Acesso em: 5 de outubro de 2022.

A partir da contextualização sobre a imagem abordada nesta análise, o trabalho segue para as observações teóricas, com base em Kress e van Leeuwen (1996) relativo à Gramática do Design Visual (GDV).

Ao observar o processo de interação entre os participantes, em que é possível identificar vetores – como as mãos do índio e os olhos direcionados da caricatura do presidente –, ator – uma vez que a caricatura de Jair Bolsonaro dirige-se em sua ação em sentido ao índio   sem expressão de resistência ou reação – e meta – o índio – indivíduo sem expressões ou reações diante de uma personagem com detalhes ativos em sua descrição, considera-se uma representação narrativa, classificada como de ação – por proporcionar uma leitura de acontecimentos/ações entre duas personagens.

Ainda sobre a representação narrativa de ação, há um detalhamento: transacional, pois ela conta com a presença de dois participantes, um ator e um meta com indicação de vetores, uma vez que há olhar direcionado do presidente ao índio, abertura da boca em direção a este – evidenciando uma ação – e os braços do índio em direção ao seu opositor na imagem.

Além da Metafunção ideacional/representacional, envolvendo os participantes do texto,  consta também a Metafunção Interpessoal/Interativa, com relação entre leitor e texto. Partindo dessa observação, a leitura pode identificar um olhar de oferta (quando não há interesse/ olhar para um “leitor”) evidenciando um tom persuasivo e não incisivo por parte de personagem em direção ao leitor, uma vez que um olha para cima e o outro mantém os olhos fechados, em um enquadramento com plano fechado nas faces das personagens, o que caracteriza subjetividade na representação.

Somando às considerações relacionadas à Metafunção Interpessoal/Interativa, na imagem analisada verifica-se uma perspectiva oblíqua/subjetiva das caricaturas, a qual não revela tudo, mostrando apenas um ângulo específico do que é caracterizado na imagem - as faces das personagens em interação e suas expressões faciais, o que gera menor empatia com o leitor e maior distanciamento e subjetividade também. Ademais, há uma perspectiva em ângulo baixo: participantes em paralelo em sua colocação na imagem em relação ao olhar do leitor, concedendo um certo poder a este.

Por fim, quanto à aproximação ou ao distanciamento do real e à quantidade e à qualidade de informações necessárias para o leitor – modalidade – a imagem conta com baixa modalidade naturalística, marcada saturação das cores distantes do real, tons como cinza e verde, incomuns na coloração de pele e cabelo, assim como as formas caricatas, com fisiologia destacada exageradamente, destoando do natural. Estes detalhes últimos apontam uma alta modalidade abstrata também e uma alta modalidade sensorial a partir das expressões em evidência, a ênfase na face/expressão grotesca do indivíduo inferior e o tom vermelho indicando o derramamento de sangue, assim como a posição do indivíduo com a cabeça invertida indicando sua submissão durante a situação.

É possível identificar e classificar vários detalhes presentes nessa imagem em análise, contanto, o objetivo da GDV e de quem a usa como fundamento não é prescrever e atender a todas as possíveis análises de um mesmo objeto, esgotando-as, e sim desenvolver o máximo possível de uma construção de sentido conforme o quadro teórico organizado por Kress e van Leeuwen (1996) para descrição dos códigos semióticos.


REFERÊNCIAS


CUNHA, Andreia Honório da. Gramática do design visual e tiras: multimodalidade e produção de sentidos. Ponta Grossa - PR: Atena, 2021.


GILMAR. CANIBAL CONFESSO. São Paulo, 5 de outubro de 2022. Twitter: @CartDasCavernas. Disponível em: https://twitter.com/CartDasCavernas/status/1577691383866998785?s=20&t=5NBV49I6NoCjATuXg20Ezw. Acesso em: 5 de outubro de 2022.


GOMES, Francisco Wellington Borges. A Gramática do Design Visual. 30 de set. de 2022. 194 slides. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1S_JXqV8yfCKdduEk_VwrHUXqxbtjNt1k/view?usp=drive_web&authuser=0


KRESS, G.; VAN LEEUWEN, T. Reading images: the grammar of visual design. London, New York: Routledge, [1996], 2006.


SENADO NOTÍCIAS. Bolsonaro veta projeto que criava Dia dos Povos Indígenas

Disponível em: Agência Senado. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2022/06/02/bolsonaro-veta-projeto-que-criava-dia-dos-povos-indigenas. Acesso em: 5 de outubro de 2022.


 

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